Somos todos analfabetos

Desde os meus 7 anos, venho me sentindo alfabetizado. Desde então li gibis do Chico Bento, placas de ônibus, manchete de jornal, besteiras, além da “Droga da Obediência”, “A Viagem de Sofia”, “O Alquimista”, poesias, contos, livro de ciências, Marx, Smith, Bourdieu, Florestan, Garcia Marques, Danislau Também, Dostoievski. Cheguei a ler Camus en français e Borges en español.

Mas no Japão, somos todos analfabetos.

Por aqui, lembrei-me de uma conversa que tive com a Lia (a sempre simpática faxineira lá da casa da minha mãe). Ela, que não sabe ler e escrever muito bem, me contou como é difícil depender dos outros pra pegar um ônibus do qual se sabe o nome, ler só as fotos do jornal e achar a livraria um lugar muito esquisito.

Eu, como a Lia, sou, por aqui, um analfabeto, e fico admirado como as pessoas podem compreender algo tão complexo como são as escritas.
A língua japonesa tem três alfabetos diferentes. O Hiragana (que é um alfabeto silábico), o katakana (que também é silábico, mas só é usado para palavras estrangeiras) e o Kanji (um alfabeto importado do chinês, no qual cada caracter ou suas combinações formam uma palavra). O kanji é um desenho de lógica bonita e complexa.

Nas ruas de Naha e na Junkundo, uma espécie de Livraria Cultura de Okinawa, sinto-me privado de todas as histórias, reflexões, haikais e besteiras escritas em japonês.
No restaurante, eu escolho a comida pela figura (quando tem).
No supermercado, não confundo refrigerante com detergente graças ao trabalho dos designers de embalagem.

Em japonês

木 é uma arvorinha
森 três arvorinhas são uma floresta
人 é uma pessoa
休 uma pessoa debaixo de uma arvorinha é descanso

Haja imaginação para aprender japonês. Lia, がんばてくださいね。

2 Respostas to “Somos todos analfabetos”

  1. Danilo Havana Says:

    nossa mano, que massa.

    em ingles, agua se escreve water

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